sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sem lembranças há brilho?

"Feliz é a inocente vestal;
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças;
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança."
Alexander Pope
 
Foi do poema de Alexander Pope que Charlie Kaufman tirou o nome e também inspiração para seu roteiro, ou melhor, seu filme “Brilho eterno de um mente sem lembranças”. E o roteirista fez sua obra com tanta sensibilidade quanto transmite Pope na sua. Aliás, a profundidade do roteiro aliada à direção magnífica de Michel Gondry e à excelente atuação de Kate Winslet e Jim Carrey  me fazem pensar que não há como analisar o filme, este foi feito para ser sentido por cada espectador e interpretado pela subjetividade de cada um. 

Um filme que fala da mente humana, do passado, do amor. Quem nunca quis uma caminho mais fácil para terminar um relacionamento? Quem nunca quis esquecer algum momento da vida do qual se arrependeu? Quem nunca quis parar de sofrer por uma lembrança? Apagar esses momentos ruins da memória seria a melhor alternativa? Mas não é desses momentos também que a vida se constrói. Não são com os erros que se aprende a acertar? Se você se esquece do erro que cometeu será que não o cometerá de novo? 
Joel amava Clementine. Clementine amava Joel. Os dois viveram um grande amor, mas sofriam com suas diferenças. É por isso que ela decide apagar ele de sua memória. Então, num momento de raiva onde tudo o que vinha a sua mente eram os defeitos da amada, ele decide apagá-la também.  Porém, durante a sessão, dentro de sua mente Joel se dá conta de que perderia  não só os os piores como também os melhores momentos de sua vida, aqueles ao lado de sua querida Clementine. A partir de então Joel passa a lutar contra o procedimento, que pela manhã já teria apagado todas a lembranças de seu amor, tentando esconder a mulher de sua vida em lugares de sua mente onde ela nunca estivera antes, na sua infância e adolescência.

“Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos.” O filme cita  Nietzche  fazendo-nos refletir: esquecer é a melhor opção? Será que somos completos sem nossas memórias? Mas será que conseguimos perdoar se não esquecermos certas situações? Há brilho numa mente sem lembranças? Cá estou eu após assistir ao filme, cheia de interrogações. Para mim por enquanto, todo esse assunto é uma faca de 2 gumes.





Um comentário:

  1. karina, incrível como tenho pensado nessas mesmas questões há alguns meses. acho que preciso rever o filme e "criar uma crise" para alcançar algumas respostas.
    sobre o que colocou, essas dúvidas não me fazem acreditar em nada além do "até mesmo a dor, o sentimento indesejado", pode ser contemplado com alguma leveza ou beleza.
    penso não haver substância para o esquecimento quando o envolver-se extrapola uma noite de papo furado num messenger/sexo casual. a partir daí e para o bem de todos, mesmo que te faça ficar com os cabelos azuis e perder a capacidade de provocar qualquer riso, a vontade de esquecer vira sinônimo de significância, de caminho percorrido, vivência.
    apesar de pensarem o contrário, acho que acabamos brilhando mais a cada dia vivido, se aceitamos as curvas do caminho como um processo, se não sentimos prazer em sofrer.

    parabéns pelo texto.

    =]

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